quinta-feira, 31 de março de 2011

O Projecto Ruin'Arte, por Maria do Carmo Serén

 
Avizinhando-se a primeira exposição deste projecto na Invicta Cidade, com uma nova colecção inteiramente dedicada a esta magnífica e histórica região, venho aqui homenagear todos os portuenses e em especial, a Dra. Maria do Carmo Serén, que amavelmente me agraciou com a sua pena...
 
Já sabem, será inaugurada no dia 2 de Abril, pelas 16.30h no Palácio das Artes, no Largo de S. Domingos, 16-22, ficará patente até dia 24 ... conto com a vossa massiva presença e incondicional apoio a esta causa que é de todos nós.


Gastão de Brito e Silva.
Sabemos bem que cruzamos o tempo da Post-fotografia, esse conjunto de tendências que solicitam uma concepção de arte total, (tudo é Arte, tudo pode ser estético) e exploram as capacidades tecnológicas da representação. 
 
Há, com isto e fora disto, um novo olhar sobre o mundo urbano onde não se distingue centro de periferias e uma concepção sobre o território onde se desenham, em grandes espaços, passagens breves do cultural sobre a Natureza.
Aí se levanta ainda a questão dos vestígios. Testemunhos de civilizações, de arqueologia urbana, rural, exótica ou industrial são agentes de uma interrogação sobre o presente.
 
A noção romântica de ruínas, de restos nostálgicos de uma cultura de origens, surge agora como manifestação crítica da perda, da desconstrução que rege a actividade criativa do homem.
Um dos processos mais recentes da abordagem da degradação, do absurdo do envelhecimento das coisas é a cartografia fotográfica, que no conjunto do observado destaca pelo escurecimento ou banimento da força  do contexto, os objectos a distinguir. 
 
E assim, porque destacados num meio neutro, o objecto torna-se pregnante como uma escultura no terreno.
É esse o processo usado por Gastão de Brito para destacar as suas ruínas de prédios erodidos, que se isolam no seu tempo e fora do seu tempo.
As suas ruínas, (prédios, quintas, fachadas, interiores ou pormenores artísticos) são indiciados pela cor e elevam-se num meio de cinza de chãos, céus, construções ou mesmo pessoas. 
No cinzentismo da envolvente, as ruínas ganham vida, essa vida de desolação e beleza tardia e frágil, que exige intervenção imediata.
 O edifício que sobe a rampa difícil, impera na encosta no seu vermelhão envelhecido; a velha quinta com telhados seiscentistas e entradas para cavalos, amarelecida na sua erosão, distingue-se do aprumo e geometrismo recente das habitações que espreitam num plano posterior; A fonte que se avista no portal do prédio de construção adiada inviabiliza a destruição do edifício, mas é de novo a cor que sobressalta e fixa o olhar.
 São notas alheias de cor, (uma buganvília, um rosa forte, os vidros partidos de um conhecido armazém…) que instalam a  decadência e a sedução. 
 
Por vezes o efeito de destaque é provocado pela claridade imposta ao objecto, uma das práticas da nova fotografia cartográfica.
O destaque transforma-se numa topografia. Outras imagens introduzem esse factor da erosão e do abandono contemporâneos que são os grafitti.
Podem por si só, eleger um edifício como ruína; ou proporcionar uma bela imagem: o homem de boné que não esconde os cabelos brancos, feito sombra cinzenta no colorido do muro sugestivo.
Os grafitti são um elemento informativo do nosso tempo, dizem o mesmo que a árvore de Maio da Revolução Francesa, anunciam a contestação e a afirmação de si de um grupo novo. 
 
Podem ser arte, podem juntar um ar estético ao vazio. Mas tal como aqui os vemos também denunciam a degradação.
O sentido estético destas imagens de Gastão de Brito não se constrói a partir da nostalgia; entranha-se como uma variante da própria fotografia que nos mostra o que foi como uma emanação; que nos fala de presença e ausência simultânea.
São ambas, ruínas e imagem fotográfica, o sinal de uma catástrofe e à iminência de um desastre, (a fotografia, suspendendo o tempo é uma catástrofe no conceito das leis da Natureza). Ambas assinam uma declaração de morte.
Talvez por isso mesmo, nessa aliança dos dois objectos, ruínas e imagem fotográfica, a nostalgia infiltra-se por entre os recursos da cartografia. Vestígios como estes não são apenas imagens, são semântica.
Dizem-nos de outros tempos, da vida que proporcionaram, da beleza que suscitaram. Dizem-nos das origens e da sua morte.
E legitimam a nossa frágil condição: em linguagem psicanalítica a casa é o nosso corpo e o seu fraccionamento, uma castração, uma perda.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O Centro Comercial Cruzeiro - Monte do Estoril

O Centro Comercial Cruzeiro entrou na história por ter sido o primeiro shopping de Portugal. O seu nome foi criteriosamente escolhido e não poderia ter sido outro, foi assim baptizado por estar rigorosamente localizado na intercepção das freguesias do Estoril, Cascais e Alcabideche, por ser também ali  o ponto em que os aviões  se encaminham para as suas rotas internacionais e por os seus promotores se chamarem Cruz.
Durante a Segunda Grande Guerra, a costa do Estoril teve um grande impulso social. Por Portugal ter assumido uma política neutral nessa ocasião, todo o País foi "invadido" por refugiados de toda a Europa. Sendo o Estoril uma zona rica por excelência, atraiu não só algumas personalidades de vulto, como foi também palco de acontecimentos de espionagem que marcaram o destino da guerra. O Estoril, foi também por esta altura, eleito por três casas reais que aqui se exilaram. Karol da Bulgária, Victor Emanuel de Itália e Juan de Borbón, conde de Barcelona, aqui viveram felizes e consagraram uma vez mais esta aprazível localidade, já antes frequentada pela realeza portuguesa.
Houve então uma súbita necessidade de nos modernizarmos comercialmente, os centros comerciais já grassavam pela Europa e era uma grave lacuna no ponto de vista social e económico, a inexistência de uma estrutura desta índole em território português. Foi edificado estrategicamente no Monte do Estoril, para fazer face às necessidades de um ávido jet set que frequentava esta bem afamada zona, o que ao mesmo tempo foi visto como um incómodo para outros grupos financeiros, e que o condenou logo à nascença.
A ideia e realização deste projecto, deve-se a Manuel António da Cruz e do Dr. João da Cruz, seu promotor, arquitecto e investidor. A primeira pedra foi lançada em 1947, e desde então que está por rentabilizar. Este projecto desde o seu início e por ser uma inovação, foi alvo de invejas e intrigas que comprometeram o seu desenvolvimento, chegando a ser embargado pela influência de Fausto de Figueiredo, que o via como uma ameaça ao Casino do Estoril que então geria.
Ultrapassadas todas as dificuldades, o projecto prosseguiu lentamente e ficou concluído em 1951, ano em que A Revista de Turismo inclui, no seu nº 94 (Janeiro de 1951), uma extensa reportagem sobre este «grande melhoramento», recentemente inaugurado, «no seu género um dos melhores da Europa».
A sua traça Modernista, tal como a volumetria, foram pensadas em grande. Além das quarenta lojas de que estavam previstas, onde não faltaria uma casa de fados, restaurante panorâmico, salões de festas, dancing, salas de jogo e mirante,  tinha ainda um ringue de patinagem onde chegou a acontecer um combate de boxe. Estavam programados acontecimentos sociais, que o tornariam num dos locais mais chiques do mundo, mas entretanto o seu mentor, Dr. João da Cruz, faleceu pelo desgaste que todo este processo lhe custou, ditando assim o destino deste fantasmagórico e lindo edifício, deste projecto que nunca acabou por ser acabado, acabando por acabar em desgraça.

Aproveito este espaço para agradecer ao Prof. José d' Encarnação e à Sra. D. Maria Helena Assunção Farinhas da Cruz Alves da Silva, por todas as informações e simpatia que dedicaram a este nosso projecto.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ruinosos momentos...

Hoje é dia de ruinosa poesia...
apeteceu-me divagar, sem por isso me afastar
das histórias e glórias que estas pedras têm para contar...
Aqui começam as epopeias e pensamentos,
Que em vários momentos,
nos fizeram pensar...

O Mosteiro de Nossa Senhora de Seiça,
foi a minha musa de inspiração, por aqui iniciei esta grande colecção...

 A desgraça da Quinta da Graça...
foi desgraçada por um impiedoso incêndio.
No entanto, a sua graciosa traça,
grassa graça e mantém-se engraçada,
graças a Deus...

O palácio dos Duques de Aveiro. 
Este edifício é um dos melhores exemplares de arquitectura renascentista portuguesa...
infelizmente não é surpresa o seu malfadado estado, pois foi condenado no mesmo dia, em que sua augusta senhoria teve um percalço, deu um passo em falso e subiu ao cadafalso... 
e foi desde então que Azeitão se esqueceu, e nunca mais nada aqui aconteceu...

O Palácio Almada Carvalhais,
foi um edifício nobre de grande porte... hoje é um edifício pobre e sem grande sorte...

Na linha defensiva de Lisboa, as bocas de fogo calaram-se...

Em Benfica, as duas manas, Vilas Ana e Ventura...
Desventuradas aventuras mereceram a atenção e tensão popular, foi criado um movimento de cidadãos que tudo tem feito para as salvar...

A Lisboa pombalina deveria ser uma prioridade da nação, há bizarros casos de difícil explicação, como um contador de electricidade proposto como património para a humanidade pela sua posição...

O Hotel da Serra da Pena e sua água radioactiva, perdeu a sua glória e nem mesmo a sua história conseguiu manter viva.


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